Adulto preparado

Quero praticar montessori - Por onde começar (por si)!

Seguir montessori não é só ter um ambiente preparado, os materiais, ler os livros, frequentar workshops ou ouvir podcasts. Para praticarmos montessori temos de ser adultos preparados e para isso acontecer tem de haver uma transformação. A primeira mudança começa em nós mesmos, a segunda centra-se na forma como olhamos para a criança. Mas hoje, o nosso foco é na transformação do adulto que quer praticar montessori, seja na escola como professor ou em casa enquanto mãe, pai ou cuidador.

A mudança é algo que pode ser angustiante. No geral, a mudança gera sentimentos de insegurança, medo ou ansiedade. A maioria de nós tem aversão à mudança, gostamos de nos sentir confortáveis nos nossos hábitos. E, não há nenhum mal nisso, o que acontece é que por vezes os nossos hábitos são isso mesmo, apenas hábitos e às vezes nem sabemos bem porquê fazemos determinadas coisas. Se pararmos para pensar, certamente ocorre-nos várias coisas que fazemos só porque sim, ou porque sempre fizemos assim, ou até, porque “toda a gente faz assim”. Quando pretendemos seguir montessori na educação da nossa criança, isso pode gerar alguma insegurança, porque para muitos de vós tudo isto é novo!  O que não é novidade, é que montessori é um método cientificamente comprovado, testado em milhares de crianças em todo o mundo e estes factos são mais que suficientes para confiar nos ensinamentos que Maria Montessori nos deixou. Não é uma moda, é ciência nunca se esqueça disto.

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Não há famílias, nem pais, nem filhos perfeitos, somos seres humanos, somos imperfeitos por natureza. O problema, muitas vezes, está  em assumir essa culpa, porque  pressupõe assumir que falhamos e isso é algo que muitas vezes calamos.

Se pretende abraçar montessori na sua vida, tenha em mente que é imprescindível que olhe para dentro de si, faça uma auto análise e com toda a honestidade, observe o que acha que está a fazer certo e o que está a fazer de errado em relação à educação dos seus filhos. É este exame de auto- critica que lhe vai trazer respostas. Dado esse primeiro passo, abra a sua mente para a mudança que aí vem – preparar-se, enquanto adulto, para melhor saber educar os seus filhos, sem gritos e em paz dando-lhes oportunidades para que se desenvolvam naturalmente. Montessori não é nenhuma seita, nem uma coisa só de gente rica, montessori é a forma que você quiser que seja, seguindo as diretrizes do método, obviamente. Mas, também, seguindo aquilo que a sua família é: as regras, os hábitos, a cultura é isso que vai dar alma a montessori na sua casa e na sua vida. Se, a sua família tem por exemplo uma horta ou se, por outro lado, adoram animais ou a praia, ou ficar em casa a cozinhar, então vamos fazer montessori com isso tudo. Na educação montessori, o papel do adulto é imprescindível e por esse motivo,  Maria Montessori contemplo-o no seu método. Ou seja, como podemos ser o melhor exemplo para os nossos filhos? Como podemos apoiá-los conscientemente no seu crescimento?

Não há famílias, nem pais, nem filhos perfeitos, somos seres humanos, somos imperfeitos por natureza. O problema, muitas vezes, está  em assumir essa culpa, porque  pressupõe assumir que falhamos e isso é algo que muitas vezes calamos. Montessori permite sentir a culpa, sem juízos de valor, porque em montessori não mentimos aos nossos filhos, assumimos quem somos, pais  cansados, mas também, divertidos, atentos e, outras vezes, nem tanto. Tentarmos ser perfeitos só vai criar mais stresse, e estarmos mais desligados, sempre ocupados e preocupados com tudo. Quando o objetivo é vivermos calmos e descontraídos com a nossa família. O que vou dizer a seguir, pode não funcionar para todas as famílias, não é objetivo desde podcast dizer-vos como é que devem viver. Contudo, a partilha de algumas práticas comprovadas podem apoiar-vos na vossa vida e assim serem os tais adultos preparados.

Primeiro ponto. Não podemos mudar os nossos filhos, nem maridos, nem ninguém, há que aceitar tal como são. Mas, as nossas reações podemos e aqui está o primeiro passo. Será que podemos mudar as nossas reações? Claro que sim e podemos começar por: 

1.    Pedir desculpa sempre que erramos e nos permitir falhar, não ser tão reativos (contar até 10 às vezes pode funcionar) e a raiva. A raiva pode tomar conta de nós, vamos mudar isso?

2.    Cuidarmos de nós próprios

Aqui está um ponto fulcral e que nos ajudará muito neste caminho de transformação em adultos preparados-  estarmos bem connosco próprios. Todos estamos melhor quando o nosso corpo e mente estão saudáveis. Para cuidar da nossa família, temos de cuidar primeiro de nos próprios. Comer bem, fazer algum exercício,  talvez caminhar, correr, yoga, algum tempo ao ar livre. O importante é fazermos aquilo que nos faz sentir bem.  E, nada de sentir culpa por cuidar de si!

Outro ponto.

3.    Cultivar uma mentalidade de aprendizagem e auto -conhecimento

Já pensou, que quando começamos um trabalho novo fazemos formação, os professores tiram cursos para serem capazes de dar aulas e porque é que enquanto pais não devemos buscar auto- conhecimento, pesquisar, ler, fazer workshops, ouvir podcasts, aprender a seguir a intuição, com isso já está a cultivar um novo hábito que é mudar a sua mentalidade, relativamente, a como educar os seus filhos - ou seja,  aprendendo. 

4.    Praticar a presença  

É difícil estarmos presentes, quando tentamos ser tudo para toda a gente e somos solicitados em inúmeras situações,  como adultos que somos com muitos compromissos, incluindo ser pais. Em primeiro lugar, concentrar-se e executar uma tarefa de cada vez. Sabemos que não estamos, de facto , a ouvir os nossos filhos a falar sobre o dia deles, se estivermos de costas para eles, enquanto preparamos alguma coisa na cozinha. É melhor, se lhes dissermos que adoraríamos ouvir o que têm para dizer assim que terminarmos o que estamos a fazer.E, para quem gosta de caderninhos e blocos de notas, que tal anotar os pensamentos que ocorreram, enquanto joga com os seus filhos, sabe aquelas preocupações e listas de compras e coisas para fazer. Escreva isso e mais tarde trata de tudo e assim naquele momento que está com os seus filhos  fica com a mente livre para estar presente. A tecnologia é uma grande distração da nossa presença. Mas, podemos usá-la de forma consciente, deixar o telemóvel longe da vista pode ser uma boa dica, pois raramente nos desligamos, porque sempre que pegamos no telemóvel para ver uma coisa, acabamos por ver outra e outra e isso contribui para a nossa não presença estamos ali mas a cabeça não, os nossos filhos sentem isso. Não esqueça que estar ali não significa estar presente, podemos estar mas a cabeça não. Se de facto é difícil estar totalmente livre para os seus filhos, mas se lhes puder dedicar nem que seja 20 min do seu dia, eles vão agradecer.  Quantidade de tempo não significa qualidade, portanto mais vale menos tempo mas que seja bom.

A observação é a ferramenta mestra em montessori. É importante aprender a observar os seus filhos, sem julgamento, apenas observar tal como eles são, o que gostam, comem, como brincam tudo.  A observação ajuda: 

  •  Olhar de facto para a criança com novos olhos

  •  Estar mais presente e reparar em mais pormenores acerca da criança e do mundo ao redor

  • Vermos as coisas da perspetiva da criança permite compreendê-la melhor

 Se puder anotar melhor, senão apenas observe.

5. A nível emocional

Outro ponto, a trabalhar é a nível emocional. Todos temos necessidades emocionais,  quando essas necessidades estão satisfeitas, acredite que o seu dia corre melhor. A nossa reserva emocional esta cheia quando nos sentimos seguros, amados e aceites. Precisa de ser continuamente reabastecida. Quando ignoramos as nossas reservas emocionais , tornamo-nos reativos. Somos responsáveis pelo abastecimento das nossas próprias reservas, por encontrar maneiras de cuidar de nós próprios e por nos assegurarmos de que obtemos a ajuda e apoio que precisamos. Os nossos companheiros não são os únicos que nos podem ajudar . Com um pouco de criatividade, podemos inventar inúmeras formas de encher a nossa reserva.

  • Beber um café ou chá

  • Ouvir música

  • Falar com amigos ou família

  • Fazer um bolo

Quando a nossa reserva esta cheia, é mais fácil encher a reserva dos nossos filhos. A forma mais fácil é através da conexão - fazê-lo sentir que pertence, a sua importância e a aceitação, quanto mais nos conectamos com a criança menos reativa vai ser e mais bem disposta estará. 

E, assim chegamos a outro ponto - abrandar. É importante, abrandar quando a criança está a fazer alguma coisa respeite o tempo dela, ela chegou há pouco tempo ao mundo, porque somos tão exigentes com um  ser que está a aprender tudo! Vá devagar até nas ajudas à criança , às vezes isso atrapalha. Sabe o que dizia Maria Montessori?

“Nunca ajude uma criança numa tarefa que ela acredita que pode fazer sozinha” 

6. Os pais não são criados nem chefes dos filhos

E aqui está outro ponto crucial na mudança de mentalidade, acho que quase todos nós tivemos pais “chefes” ou que assumiram o função de nos servir. Pois bem, sabemos hoje, que o papel de mãe e pai não é apressar-se e resolver todos os problemas dos seus filhos. É, em vez disso, estar lá para apoiar, ser o seu porto seguro sempre, mas não é de todo, ser criado nem chefe do seu filho e esta é a grande mudança de mentalidade. Porque até aqui quantas mães não se sentem criadas dos seus filhos e até já crescidos.!? Somos os seus guias, apoiamos sempre mas deixamos que cresçam e se desenvolvam ao seu ritmo. Sermos guia dos nossos filhos é:

·      Dar espaço à criança para que ela resolva as situações por si própria

·      Estar disponível quando é necessário

·      Ser Respeitador, amável e claro

·      Ajudar a criança  a assumir a responsabilidade, quando necessário

·      Proporcionar um ambiente rico e seguro para explorar

·      Ouvir

·      Responder em vez de reagir

·      Honestidade 

Portanto. Não temos de ser chefes e dar ordens e não temos de ser criados, fazendo tudo em vez deles. Podemos simplesmente guiá-los.  

7.Preparar o ambiente em casa 

A nossa casa, também é outro dos pontos nesta mudança e na construção do adulto preparado, faça da sua casa o seu apoio. Como é que isto é possível, simplicidade e adequando para a criança, mesas, cadeiras, móveis à sua altura são uma grande ajuda.

Todas as ideias descritas neste texto necessitam de prática. Transformar-se num adulto preparado para lidar com a criança de uma forma diferente daquela que sabíamos até aqui é como aprender uma língua nova e isso implica muita prática. E nada de se recriminar da forma como foi educado ou até como tem feito com os seus filhos até aqui, por vezes, podemos ter essa tendência, mas não nada disso, antes devemos ser gratos pela forma como os nossos pais nos educaram, certamente fizeram o melhor que sabiam e podiam, é importante ter em consideração este aspeto. Não podemos mudar o passado, mas o presente e o futuro está nas suas mãos. Vamos fazer este caminho juntos?

Se preferir pode também ouvir este texto aqui, clique para ouvir!


Referências Bibliográficas

Este texto foi feito com base em experiências partilhadas por pais, inspirado no livro “A Criança Montessori 0-3” da Simone Davis e revisto pela Sylvia Sousa, do Mindful Montessori Portugal.

Mara Alves

Jornalista e autora do montestory.

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