A Escola Ideal

Em Portugal o ano letivo começará agora em setembro, aqui no Brasil apenas em janeiro, mas a ansiedade dos pais não reconhece continente, norte ou sul, nem calendários. Será que a escola que escolhemos ou que temos à nossa disposição será ideal?

Todas as famílias se depararão com essa questão pelo menos um par de vezes durante o percurso escolar dos filhos: para mim enquanto mãe e professora a educação é o melhor legado que posso deixar, como uma herança pessoal e inesgotável. Lembro-me até hoje do dedo mindinho do meu pai à volta do meu pulso enquanto dizia “fixo” e me incentivava a seguir em frente e enfrentar os meus medos (hoje adoro caminhadas e sou bem mais ágil e segura), ou a forma como o meu professor de história me incentivava a escrever histórias sobre o pensamento renascentista de Leonardo Da Vinci, ou como a minha professora de matemática cantava comigo nos intervalos quando acabava por ficar sozinha, ou como os professores de piano que acreditaram em mim mudaram determinantemente o meu percurso musical e o rumo da minha vida.

Enquanto professora, mesmo que em aulas de piano, é incontornável conversar sobre assuntos convergentes sem precisar de expor opiniões, simplesmente factos. Um simples intervalo entre duas notas musicais pode ser um portal para o estudo da história, um baú de histórias e referências da literatura, ilustrar uma volta ao mundo ou apelar a um pequeno “coração”. É resinificar cada momento da aula e torná-lo especial que me faz apreciar tanto o ensino.

A minha filha mais velha ingressou na escola aos dois anos de idade e senti-me privilegiada e feliz mas ansiosa por poder escolher a escola. Vivo numa cidade em que o ensino privado é normalizado para todos aqueles que o conseguem pagar e a variedade de escolhas vai do 8 ao 80 quer nas propostas pedagógicas, quanto na perspetiva de ambiente e recursos, financeira e atividades extracurriculares ofertadas. Eu estudei imenso as possibilidades, mudei de bairro para ficar mais próxima da que mais me agradava e ainda assim temia que não fosse “ideal”.

Pois bem, hoje possuo uma resposta: Não existe uma escola ideal para os pais. A escola ideal depende das nossas expectativas, da nossa cultura, dos nossos preconceitos e do nosso passado. 

Outra afirmação que faço é que não seria capaz de ser a única professora das minhas filhas. Como é importante que contacte com outros professores e outras personalidades, que têm tanto a acrescentar! De igual forma (também pela vantagem de estudarem em agrupamento de idades variadas dentro da mesma sala) reconheço que ninguém é melhor para estimular uma criança do que outra criança. A competição e a cooperação caminham de mãos dadas de forma tão saudável, natural e prazerosa que nenhum adulto consegue fazê-lo sozinho.

Aconselho apenas que conheçam o plano pedagógico, os pilares da escola e que conversem se possível com a diretora pedagógica ou o professor, ou que conheçam alguma(s) família(s) que possam compartilhar as suas experiências nas escolas tangíveis. Depois de escolherem uma escola acolham as conversas das crianças sobre a mesma, sem questionar atitudes, apenas escutem. Escutar novidades que a criança quer partilhar é um exercício perfeito de empatia e uma boa oportunidade para resolvermos de forma justa frustrações futuras, tão necessárias para o crescimento.

Para concluir partilho mais uma experiência pessoal. Na escola que escolhi, há 4 anos atrás, encontrei na semana de adaptação alguns desfasamentos entre as minhas expetativas e a realidade. Fiz uma lista com vários pontos para discutir com a diretora que me respondeu atenciosamente com dicas de leitura a cada um deles (confesso que guardei a lista e ainda não consegui terminar as leituras, mas as respostas foram claras e apaziguadoras naquele momento). Quando comecei a estagiar lá, fiz novamente uma lista, desta vez bem mais curta pois havia estudado mais, porém não questionei ninguém e continuei os meus estudos e a minha observação e descobri que dela eliminaria muitos tópicos.

São 40 anos de uma escola de postura científica, com escolhas e descobertas próprias de quem experimenta, testa e vai mais além.  Uma escola é também um organismo vivo, cheio de órgãos vitais para o seu funcionamento e é incrível poder olhar para cada um dos elementos que constituem o ambiente de uma forma orgânica: um defeito isolado numa pessoa pode ser uma vantagem em momentos-chave para uma equipa e conseguir sair de uma fotografia e experimentar um ambiente real agrega a quem observa uma sabedoria e paz imensurável. Hoje agradeço a oportunidade de participar de uma escola perfeita, orgânica e viva, contrastante da minha escola ideal e espero contribuir de forma harmoniosa em cada ambiente que integro.

Bom ano letivo e boas escolhas!

Sara Chong

Sara Chong é mãe, pianista, professora de piano na Prima Escola Montessori de São Paulo. Autora da Educating for Peace. Guia Montessoriana em formação e editora do Brasil do Montestory.

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