A importância do ambiente preparado

“O que a gente leva para o ambiente a criança leva para a vida”, a frase é de Luciana Ceron e resume a importância do ambiente Montessori. O ambiente preparado é o que permite à criança mover-se, tocar e desenvolver-se livremente. É a partir dessa liberdade que a independência e autonomia serão conquistadas e todas as caraterísticas que advém daí.

A criança que se desenvolve num ambiente onde tudo está pensado de acordo com as suas tendências naturais, planos de desenvolvimento e períodos sensíveis é um ambiente que a respeita, segue e observa a sua natureza. Embora a parte estética/física seja importante, o ambiente preparado não se limita ao mobiliário pequeno, simples, leve, a materiais e estantes.

O adulto é peça fundamental nesse ambiente, já que o ambiente é construído sob o seu olhar, por isso, o adulto tem de estar preparado. Não adianta, por exemplo, ter um banco junto à pia, se depois a criança não pode usar porque vai molhar tudo!? Portanto, antes do ambiente, o adulto tem de se instruir, observar e alinhar-se com a natureza da criança.

A escola é uma casa, mas não é a casa da criança. Na escola, o foco é comum e tudo o que está no ambiente tem um propósito sensorial, tudo é pensado ao ínfimo pormenor: a mobília, as estantes, os materiais, a vida prática. Na escola temos o guia que é apoiado pelo assistente, tanto um como outro são essenciais, mas nenhum deles o centro, estão ali para ajudar e guiar a criança nas suas conquistas de desenvolvimento.

O assistente tem a missão de apoiar o guia, organizar as estantes, observar e garantir que tudo está em ordem. O bem estar social e mental das crianças é também tarefa sua e poderá, eventualmente, fazer apresentações de material. Ambos, têm de ter muita paciência, ganha na prática e na observação, saber engolir o orgulho e raiva são características esperadas. Bem como, saber os limites e quando intervir. O registo de um diário pode bem ser uma ferramenta de apoio.

O amor de guias e assistentes pelas crianças não é medido por beijos e abraços, antes se espera o respeito pelo desenvolvimento e apenas tocar na criança com permissão. “O  assistente é o super herói do guia", como disse Sheila Nogueira.

Em casa, estes papéis são substituídos pelos pais/educadores e isto por si só já é uma grande diferença, a casa não é a escola. Contudo, em casa os princípios são os mesmos, pensar na criança, observá-la e segui-la no seu desenvolvimento, mas transformar a casa numa escola, não é o caminho.

A casa é o lar, há que ter em consideração quem lá vive, porque todos fazem parte daquela pequena comunidade, onde existem regras, culturas e hábitos que variam de família para família e até de país para país.  As atividades da vida prática, mais do que o uso de materiais devem ser privilegiadas, o uso dos materiais deve acontecer se o adulto souber verdadeiramente usá-los, sem isso servem apenas para fazer fotografias bonitas. Em casa, somos mais suscetíveis a criar obstáculos à liberdade. O treino para não interromper, não ajudar e para não fazer pela criança é mais permeável, já que o ambiente familiar pode proporcionar algum “relaxamento” no que toca à regra dos três limites. Mas, o nível de exigência deve ser o mesmo, o adulto deve saber não interromper e ter também muita atenção na forma de falar, a criança absorve tudo, até a nossa raiva numa voz calma e baixa. Na minha casa, a vida prática é a mestre do meu pequeno que ainda não tem três anos. Exploramos a natureza, lemos muito e sobretudo, permito-lhe ser livre na sua essência. Porém, sou eu, a sua guia que necessita de transformação, sou eu que preciso permitir-me permitir, só assim poderei dizer que sou um adulto preparado. 

Ensaio realizado no âmbito do curso de Educadora Assistente (3-6 anos).

Mara Alves

Jornalista e autora do montestory.

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