Crianças independentes


“(...) O desenvolvimento é um impulso para uma independência cada vez maior, é como uma flecha que, lançada do arco, vai reta, segura e forte. (...)”.

“A Mente da Criança” Maria Montessori 

Ensaio

A conquista da independência começa naturalmente no primeiro ano de vida. A criança desenvolve-se, aperfeiçoa-se e supera obstáculos que encontra no seu caminho tudo graças à HORME uma força “promotora de toda a evolução”. A Independência é o estado de ser independente: não depender de terceiros, cuidar de si próprio, fazer escolhas e tomar decisões.

Para Silvana Montanaro, existem duas pernas psicológicas, uma para absorver o mundo e outra de confiança em si próprio e entender o que é capaz de fazer (por volta do 1 ano). Assim, grande parte daquilo que as crianças sentem que são capazes de fazer depende de dois processos psicológicos: a objetivação (7- 9 meses) e a autoafirmação (18-30 meses). A independência chega até aos 3 anos!

Conseguir fazer as coisas ajuda na auto-estima da criança e ter uma relação de amor pelo ambiente, vai permitir sentir-se livre para fazer escolhas, para que em adultos sejam capazes de tomar decisões, compreendendo a repercussão das mesmas. É através dessa liberdade que a criança aprende o que gosta e o que não gosta, não é só uma construção prática, mas o que levará à independência emocional e psicológica.

O desenvolvimento natural é a conquista de sucessivos graus de independência cognitivo e físico. A progressão da independência até aos 3 anos é gingante e começa com o nascimento, onde o bebé liberta-se do corpo da mãe. Fora do útero, o que absorve do ambiente vai ajudá-lo a formar a sua personalidade, a parte sensorial é a primeira que começa a funcionar.

Aos seis meses, já foram muitas as transformações que a criança sofreu, além da formação total dos órgãos internos, surge  o primeiro dente, o que significa que a criança está preparada para ingerir sólidos, esta é uma etapa muito importante no que toca à independência, pois agora a criança já pode alimentar-se, sem ser através do leite materno, já pode comer à mesa com a família e absorver essa experiência. Em simultâneo, ocorre o desenvolvimento dos movimentos, consegue agarrar uma colher, por exemplo.

É também neste período que a linguagem é conquistada, a primeira palavra assinala a independência na comunicação e por volta de primeiro ano, a criança começa a andar. Caminhar é uma conquista fruto de um processo longo e refinado que só acontece quando o cérebro está desenvolvido (o cerebelo) e ocorre em simultâneo na conquista de outras independências. Não há nada que possamos fazer que obrigue uma criança a andar, a criança só andará quando estiver preparada. Com o caminhar, sucedem-se diversas ações que levam cada vez a uma maior independência. Ao pôr ser de pé, a criança já pode vestir-se, comer sozinha, lavar os dentes e mãos.

A criança também está pronta para o desmame e desfralde, processos que acontecem naturalmente e que são importantes marcos de independência. Estas etapas de desenvolvimento devem, contudo, ser apoiadas por um ambiente que permita a criança ter um desenvolvimento natural, um ambiente preparado onde tem a liberdade para ser independente, seja através da vida prática, como alimentar-se, vestir-se ou até cozinhar e escolher as suas roupas ou alimentos. Temos de lhes dar tempo, para desenvolverem a competência de saber que são capazes.

Uma criança que esta no ambiente preparado tem uma espécie de confiança que lhe é depositada sem a interferência dos adultos e isso dá-lhe alegria. Para a criança com menos de 3 anos, o grande obstáculo é o adulto e, por isso, o nosso papel é fundamental para este processo. Temos de permitir que a criança viva as experiências, devemos ser pacientes e compreensivos.

Ter conhecimento das fases de desenvolvimento, da mente absorvente, das tendências humanas, períodos sensíveis, mas e sobretudo acreditar neste desenvolvimento natural. É o nosso papel criar o ambiente preparado para responder as necessidades das crianças e sermos observadores só assim poderemos seguir a criança e termos consciência da competência de cada criança. 

É através da observação que também saberemos remover os obstáculos para não atrapalhar este desenvolvimento. Saber quando intervir e não intervir. A autoanálise é fundamental para nos conheceremos, pois só assim poderemos responder mais eficazmente à criança. Se as crianças não tiverem os adultos certos desviam-se do caminho natural do desenvolvimento.

As crianças precisam de oportunidades para serem independentes e explorar as coisas e o mundo que os rodeia.

A independência é o objetivo de qualquer ser vivo, no caso da criança, essa independência é conquistada por meio de atividade contínua que levará à liberdade, mas também á auto – perfeição e isso não é uma vontade é a natureza a funcionar em seu esplendor. “Na natureza, criar não significa apenas fazer algo, mas também permitir que algo funcione”.

Ensaio realizado no âmbito do curso de Educadora Assistente AMI (0-3 anos).

Mara Alves

Jornalista e autora do montestory.

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